Apesar das duas palavras andarem juntas, inclusão e diversidade não são a mesma coisa. Inclusão é o ato de integrar, oferecer ao grupo o privilégio de conviver com o diferente. Ao mesmo tempo é promover o senso de pertencimento, ou seja, o orgulho de pertencer. Já diversidade é o conjunto de características e valores de cada pessoa e como as suas diferenças podem se tornar vantagens para um grupo.
Uma empresa diversa entende que pessoas são diferentes e valoriza isso, porém esse é apenas o primeiro passo. Porque não basta identificar e valorizar as diferenças. É preciso garantir que pessoas diversas estejam em todos os níveis da organização. Somente quando existe inclusão uma empresa passa a usufruir dos benefícios da diversidade.
Se a população brasileira é composta por 52% de mulheres e uma organização não tem essa representatividade em todos os níveis organizacionais, ela não é diversa. Se nossa população é de 54% de pessoas negras e elas não estão em todos os níveis, não é diversa. Se não há pessoas trans na empresa, também não é diversa. No caso das pessoas LGBTQIA+, nem as estatísticas refletem a real representatividade dessa fatia da população.
Em maio passado, o IBGE divulgou pela primeira vez números sobre a população LGBT brasileira. O levantamento diz que 2,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais se declaram lésbicas, gays ou bissexuais, número muito abaixo das estimativas do principal órgão representativo LGBT do Brasil, que reúne mais de 300 entidades. A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) projeta mais de 20 milhões de homossexuais e bissexuais no país, sete vezes o número oficial. Manter na invisibilidade quase 10% da população brasileira, apagando a sua existência, não ajuda em nada na criação de políticas afirmativas.
Reconhecer é importante, pois a mudança começa a partir deste ponto. Organizações que criam um clima pró-diversidade devem ser modelos a serem seguidos. E não basta apenas ter um time diverso para a inclusão ser positiva, é necessário ter orgulho para dar visibilidade. Gerar valor compartilhado, criando oportunidades reais para os colaboradores, é transformar planos em ações, estabelecendo propósitos para o DNA da companhia.
Essa construção começa despertando o orgulho naqueles que integram os chamados grupos minorizados. Eu uso o termo minorizado porque muitas vezes são grupos majoritários da população, mas que são tratados como minorias, como, por exemplo, mulheres, negros e pessoas LGBTQIA+, entre outros. No ambiente corporativo, o receio de não ser aceito é um fator preponderante, mas que vem mudando, pelo menos entre os cargos de liderança.
Segundo estudo da OutNow, empresa de consultoria especializada no segmento LGBT, um a cada três gestores gays do Brasil já não sente medo de esconder sua orientação sexual. Tenho orgulho em dizer que faço parte desse grupo e que a superação do medo foi um dos grandes ensinamentos que a vida me deu. Entendo que no ambiente corporativo esse temor de um posicionamento mais aberto é justificado pelo fato de o preconceito ainda ser muito presente nas organizações. O mesmo levantamento mostra que, em cargos inferiores, 61% dos profissionais LGBTQIA+ escondem a sua orientação sexual.
Por isso é preciso dar exemplo. Líderes lideram pessoas e não máquinas. As pessoas são naturalmente diversas. Somos quase 8 bilhões de diversidade no mundo. Um líder que não reconhece a diversidade no seu time não é um bom líder. Pois pessoas buscam líderes que os inspirem a ser melhores. O tema diversidade deve estar no topo da agenda da liderança…e também na do mais alto executivo.
Diversidade não é uma missão do RH, mas sim de toda a empresa, porque ela traz resultados para o negócio. Estudo da Diversity Wins, consultoria McKinsey, revela que times diversos têm 150% mais propensão de propor novas ideias e testar novas formas de fazer as coisas. Isso é inovação na veia, e inovação gera resultados financeiros. Então diversidade passa a ser um assunto estratégico para o sucesso de uma organização.
Além disso, a Covid-19 trouxe um novo ensinamento, que riscos surgem sem qualquer expectativa. Diante de um cenário totalmente adverso, as empresas que se reinventaram passaram melhor pela pandemia. Inovação é o caminho para sobrevivência e diversidade é o principal ingrediente para a inovação.
Eliezer Silveira Filho, Managing Director da Roost